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Esse cara esta dormindo muito bem, na Casa do Governador na Praia da Costa |
Ponto negativo
Casagrande se sai mal em
seu primeiro conflito social
Nerter Samora e Renata Oliveira O primeiro conflito social no governo de Renato Casagrande teve uma atuação desastrosa do governo do Estado. Enquanto o governador participava de reuniões em Brasília, sua polícia protagonizou atos de truculência, que repercutiram negativamente para o governo socialista. O Papo de Repórter analisa o episódio e as impressões que ele deixou.
Renata: – Nerter, o fato político mais importante da semana foi o mais importante, na minha opinião, de todo o governo Renato Casagrande até agora. A ação truculenta da Policia Militar na quarta-feira (18), na desocupação de uma área em Aracruz, foi no mínimo desastrosa para o governo Renato Casagrande. É verdade que quem pediu reintegração de posse foi a prefeitura de Aracruz, mas a tropa utilizada segue o comando do governo do Estado, que não hesitou em designar 400 homens do escasso efetivo da PM para o município, para um confronto com moradores de uma ocupação na Barra do Riacho. Queimou o filme do Casagrande.
Nerter: – Isso ficou ruim porque a operação montada, uma operação de guerra, diga-se de passagem, atingiu, sobretudo, mulheres, crianças e idosos da localidade. As cenas falam por si. Se a Justiça garantiu a reintegração de posse para a prefeitura, para construir um conjunto habitacional do “Minha Casa Minha Vida”, era preciso ter uma ação diferente, com o suporte para as famílias e não uma operação como aquela, com bombas de gás e tiros de borracha. Isso vai contra o foco no social que faz parte do discurso de Casagrande desde a posse.
Renata: – Infelizmente, a imprensa capixaba, mais uma vez, fechou os olhos para o que acontecia e fez uma cobertura capenga, colocando seu foco apenas no embate polícia versus moradores e deixando de lado as nuances políticas por trás do episódio. É preciso saber que essa ação já estava rolando desde outubro do ano passado, ou seja, ainda no governo Paulo Hartung. É preciso saber também que desde outubro o prefeito do município, Ademar Devéns, estava afastado da prefeitura. É preciso saber que em audiência pública, há cerca de dois meses, o secretário estadual de Governo, Robson Leite, se colocou contra os moradores, dizendo que poderia passar o trator sobre as casas, o que aconteceu. É preciso saber que ele é aliado do ex-governador e ex-assessor de relações com a comunidade da Aracruz Celulose. É preciso saber que a empresa já teve outros conflitos sociais no município, com os índios da região. E, por último, é preciso saber que o secretário de Habitação do município é o ex-presidente pelego do sindicato dos trabalhadores em celulose, que foi expulso do cargo pela categoria. Enfim, tem muito mais coisas a se analisar do que a ação em si.
Nerter: – O fato é que Casagrande, talvez por não estar sendo corretamente assessorado nesta questão, meteu os pés pelas mãos. A agenda em Brasília para discutir a questão tributária, no mesmo dia da operação, deixou a impressão de premeditação. Ou seja, o governador sai de cena e a ação acontece, para que ele não tenha que se posicionar. No dia seguinte, o assunto sai da pauta da mídia e fica o dito pelo não dito. Mas o estrago na imagem do governo foi inevitável, por conta de seu discurso de posse. Um governador que assume prometendo um governo de igualdade não pode permitir que o choque bata em trabalhador. Se isso faz parte dessa disputa de poder estabelecida no Estado, pode ter dado certo, mas prefiro não acreditar em toda essa ingenuidade de Casagrande.
Renata: – Na quarta-feira, escrevi uma coluna falando sobre o que chamei de “política de demolição”. Isto porque na mesma semana da desocupação e demolição das casas em Nova Esperança o governador operou uma retroescavadeira para pôr no chão o que sobrou do presídio de Novo Horizonte. Como se demolindo a prisão ele apagaria o triste capítulo de torturas, mortes e desrespeito aos direitos humanos que aconteceram no Estado durante todos esses anos e que se agravaram no governo passado, levando o Brasil a ser denunciado na ONU. Mas a questão dos direitos humanos é muito mais profunda do que isso e as cenas de horror que correram o Brasil não serão apagadas com a construção de uma praça. Até porque os outros presídios continuam em situação complicada e, sinceramente, enquanto Angelo Roncalli e Andre Garcia estiverem na cúpula da Justiça, não vejo solução fácil.
Nerter: – O fato é que, se Casagrande realmente estiver tentando implantar uma política parecida com a do presidente Lula, de conquistar o apoio popular para pressionar a classe política a apoiá-lo, o episódio de Aracruz depôs contra sua imagem. Ele precisa tomar uma atitude firme sobre isso e esperamos que as entidades cobrem uma postura, se bem que pela nota de repúdio das entidades civis – como a seccional capixaba da OAB –, a coisa vai ficar por isso mesmo.
Renata: – Sim, o governador precisa retomar o controle das coisas, já que passará por momentos complicados em breve. A ida dele a Brasília foi justamente para tentar sensibilizar o governo sobre o temerário futuro econômico do Espírito Santo, caso a reforma tributária venha nos moldes que está se desenhando.
Nerter: – A reforma que se avizinha talvez seja a maior ameaça ao Estado em todos os tempos. Não só pelo impacto na Fazenda estadual, mas, sobretudo, nas finanças dos municípios. O fim do Fundap deve representar um baque ímpar na conta de cidades médias e de pequeno porte, assim como deve dar vazão a uma época de vacas magras nas grandes prefeituras. É bom lembrar que apenas poucas afortunadas cidades escapam deste destino, sejam aquelas com grandes projetos industriais – graças a cota parte do ICMS das atividades, que nada tem a ver com a arrecadação de impostos estaduais no qual esses negócios estão inseridas porque isso é uma falácia. Ou aquelas que possuem os royalties de petróleo, esta também uma ameaça que parte do Congresso Nacional.
Renata: – O quadro é realmente delicado. Se o governador Renato Casagrande deseja fazer um governo pelo social, começou com o pé errado. Sem dinheiro em caixa, fica muito difícil implementar as reformas sociais tão necessárias e que dependem de um bom entrosamento com Brasília. Com trânsito limitado ao plano institucional em Brasília e aparecendo mal na foto com a população, certamente não é esse o governo que faz questão de afirmar que “crescer é com ele mesmo”. Será mesmo?
Nerter: – Sem dúvida, esses fatos não vão passar em branco. É preciso agora que o governador restabeleça a ordem – não aquela que foi imposta à sofrida população de Nova Esperança, na Barra do Riacho. Mas que coloque, de fato, o governo nos trilhos do crescimento com desenvolvimento social, respeito ao meio ambiente e sem o ranço da política voltada ao desenvolvimentismo econômico a todo custo.
Renata: – É esperar para ver.
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