Flavia Bernardes
Ao conceder o licenciamento para que o Estaleiro Jurong se instale em Barra do Riacho, Aracruz (norte do Estado), tanto o governo do Estado quanto o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) ignoraram as exigências feitas pela comunidade, em audiência pública realizada em fevereiro de 2010. Sob pressão, foram estipuladas condicionantes pelo Iema à empresa, que não condizem com os anseios dos moradores.
A denúncia foi feita pelos próprios integrantes das comunidades da região, insatisfeitos com as 20 horas do curso “Fortalecimento e Gestão Institucional de Entidades do 3º Setor”, que será oferecido em Coqueiral e Barra do Riacho.
Segundo informações da ONG Barra do Riacho e da Associação Comunitária da Barra do Riacho, durante essa audiência pública, a empresa aceitou oferecer qualificação para a comunidade. Na ocasião, também foi cobrado pela população que a empresa investisse na despoluição do rio Riacho e na recuperação da mata ciliar da região, mas isso não foi cumprido.
Para os moradores, o descaso é resultado da pressão feita pelo Iema para que a comunidade aceitasse o empreendimento. A mesma pressão feita no Conselho Regional de Meio Ambiente (Conrema III), para que fosse aprovado o projeto, mesmo após a emissão do laudo contrário ao empreendimento, assinado por técnicos do próprio órgão.
Na ocasião, o laudo técnico foi ignorado pela então diretora/presidente do órgão Sueli Tonini, atual secretária de Meio Ambiente de Vitória. Em carta enviada aos conselheiros do Conrema III, ela recomendou a aprovação da emissão da licença ao empreendimento.
“As condicionantes foram elaboradas pelo Iema com o intuito de liberar o empreendimento, sem preocupação com o conteúdo.
É possível capacitar pessoas para o proposto, com apenas 20 horas?”, questionou Mario Camillo, da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema).
É possível capacitar pessoas para o proposto, com apenas 20 horas?”, questionou Mario Camillo, da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema).
A informação é que na região a falta de infraestrutura está motivando a comunidade a se capacitar, para que um novo boom industrial não afete a vida das comunidades tradicionais. Segundo os moradores, desde a instalação da Aracruz Celulose (Fibria), a região sofre com inchaço populacional: falta de infraestrutura educacional, de saúde e de segurança. Também houve aumento dos índices de prostituição e tráfico de drogas.
Neste contexto, as ONGs afirmam que o curso de apenas 20 horas não capacita os líderes comunitários a gerir projetos sociais em uma região que é duramente afetada por projetos industriais. Recentemente, os moradores denunciaram a exclusão de bairros do entorno do empreendimento dos cursos de capacitação. O último processo seletivo para selecionar trabalhadores seria realizado no último domingo (26), mas foi cancelado, de forma intempestiva pela Jurong.
Ao todo, duas mil pessoas da região se inscreveram para capacitação da Jurong. Mas, segundo as entidades, os cursos vêm sendo realizado a toque de caixa.
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