terça-feira, 6 de março de 2012

Desocupação em Barra do Riacho volta à tona.

05/03/2012

Sandálias da humildade
para Herkenhoff

Seculodiario 
Editorial 


Como faziam os personagens do programa humorístico Pânico na TV, que rogavam às figuras carimbadas do jet set para calçarem as sandálias da humildade, alguém deveria dar um puxão de orelha no secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Henrique Herkenhoff, e lembrá-lo que continuamos ostentando a segundo posição entre os estados mais violentos do País.

A entrevista que o secretário deu ao jornal A Gazeta do último sábado (3) deixa um rastro de prepotência a cada resposta. Herkenhoff demonstrou descaso ao admitir que não está acompanhando de perto a apuração do crime do adolescente Andriew Henrique Barroso Santos – morto pela polícia no último dia 27.

O caso, que continua gerando muita comoção e repercussão social, no ponto de vista do secretário está sob controle. Entretanto, entre familiares de Dudu, como era conhecido o jovem, e a comunidade de Jardim Tropical, bairro pobre do município de Serra, a história continua cercada de mistério e controvérsia.

Embora o secretário assegure que a apuração da Corregedoria da PM será isenta, ou seja, livre do corporativismo, as primeiras movimentações em torno do caso não confirmam esse clima de transparência prometido pelo secretário.

A própria imprensa, que se sente na obrigação de jogar luz sobre a polêmica, está tendo muito dificuldade para obter informações da polícia, como se houvesse uma blindagem corporativista para proteger os policiais envolvidos no lamentável episódio que teve desfecho trágico.

Caso semelhante ao do estudante Lucas Pioto, também morto por um policial em circunstâncias pra lá de misteriosas. A morte de Pioto continua na estaca zero. O pai do jovem, que entrou com representação contra o PM na Corregedoria, diz que após 40 dias da morte do seu filho, não tem uma única informação sobre as investigações. Tudo parado.

Na entrevista, além de tratar a morte de Andriew como um caso isolado, Herkenhoff defendeu a atuação da PM e garantiu que seus policiais estão muito bem treinados. Para encobrir as seguidas ações truculentas dos policiais militares, que começaram no ano passado com confrontos sistemáticos contra os estudantes; depois com a retirada violenta de mais de 300 famílias que ocupavam uma área em Barra do Riacho, em Aracruz, e com a morte de dois jovens somente este ano, Herkenhoff preferiu dar destaque à diminuição de 10% nas taxas de homicídio no Estado, como uma grande conquista.

Embora os toques de recolher ditados por organizações criminosos já tenham se tornado uma rotina em diversos bairros na Grande Vitória, Herkenhoff desconversa e diz que o Espírito Santo, diferentemente do Rio de Janeiro, que adotou as UPPs, não precisa da presença in loco da polícia em bairros considerados violentos. “Esse modelo não é viável e não é necessário”, disse do alto de sua arrogância.

O governo do Paraná, por exemplo, não pensa assim, e ao ver os números de homicídios dispararem, decidiu adotar um modelo de pacificação similar ao das UPPs cariocas.

No Paraná ainda é cedo para avaliar os efeitos da polícia pacificadora, mas o estado do Rio de Janeiro apresentou em janeiro deste ano o menor número de homicídios dolosos em 21 anos. O resultado, sem dúvida, é muito superior aos 10% que Herkenhoff comemora como trunfo de sua gestão.

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