terça-feira, 2 de abril de 2013

A violência nos Bailes nem sempre são gerada em seu interior na sua grande maioria é externa.


Tragédia sem fim
De janeiro a março, foram ''incendiadas'' quase duas boates Kiss no ES. Ao todo, 432 pessoas foram assassinadas no Estado

Editorial
01/04/2013 21:17 - Atualizado em 01/04/2013 21:20

O incêndio na boate Kiss, no início do ano, chocou o país e o mundo. Pudera, não era para menos, 241 pessoas, em sua maioria jovens, perderam suas vidas na tragédia de Santa Maria (RS). 
 
Talvez a tragédia da Kiss sirva de exemplo e nunca mais se repita em Santa Maria e em tantos outros municípios país afora que entenderam o infortúnio episódio como uma lição definitiva e aprenderam que é preciso e possível poupar vidas. 
 
No Espírito Santo, na última década, as autoridades pouco ou nada aprenderam sobre a lição de poupar vidas. A violência segue “incendiando” quase duas boates Kiss a cada 90 dias no Estado. 
 
Os dados da Secretaria de Segurança revelam que 432 pessoas, a maioria jovens, foram assinadas no Estado entre janeiro e março deste ano. No mesmo período do ano passado foram 439 – uma redução inferior a 2%. Muito pouco para um governo que fala que agora “acertou a mão” e está no caminho certo para conter a criminalidade. 
 
O mais preocupante é que a tragédia capixaba persiste por mais de dez anos. Como já escrevemos aqui diversas vezes, o governo e as autoridades precisam aceitar que ainda não há indício de queda nas taxas de homicídios, como insiste em repetir o secretário de Segurança André Garcia. 
 
É importante também que alguém avise ao secretário que as aparições mediáticas – como gostava fazer o ex-secretário Segurança Rodney Miranda - em nada contribuem para a redução das taxas de homicídios. Basta olhar para os dados. Os espetáculos de Rodney só serviram para a sua promoção. Tanto é que ele virou deputado e depois prefeito de Vila Velha. Não por mérito de seu trabalho à frente da Segurança, que foi pífio.
 
Se o secretário André Garcia focar na população, saberá que o resultado é construído com trabalho, planejamento e maciços investimentos. É dessa maneira que estados como São Paulo e Rio de Janeiro estão conseguindo conter a criminalidade e derrubar as taxas de homicídios, como uma curva de queda que vem se consolidando há mais de uma década. 
 
Como disse o coronel da reserva Luiz Sérgio Aurich, em recente entrevista a Século Diário, não existe mágica no desafio de enfrentar a violência. Os dados da própria Sesp são implacáveis e mostram isso. 
 
Com base nos números desse primeiro trimestre, pelos menos dez municípios capixabas ostentam taxas de homicídios duas vezes maiores que a média nacional - em torno de 22 assassinatos por 100 mil habitantes. Municípios como Serra, Conceição da Barra e Linhares projetam taxas que beiram a casa dos 100 homicídios por 100 mil. Índices inaceitáveis para um Estado que sustenta o discurso de curva de queda na taxa de homicídios. 
 
Voltando à entrevista do coronel Aurich, há outra passagem que explica com muita coerência por que o governo ainda não pode falar em tendência de queda. Para Aurich, o que existe são oscilações. Os números desses primeiros três meses do ano confirmaram essa tese. 
 
“O que temos são oscilações, como esse pico de 2009. Isso é esperado. Mesmo com o governo trabalhando duro, não é difícil chegar no final de 2013 e ter outra oscilação pra cima, como está de 2009. É verdade é a seguinte, quando você acerta a política de segurança, como ocorreu no Rio de Janeiro ou em São Paulo, não tem erro, a queda é imediata. O Espírito Santo tem oscilação, sobe um pouco desce um pouquinho, mas fica por ali. Isso já vem de alguns anos. Essa é uma realidade triste para o Espírito Santo”, conclui o coronel. 
 
Enquanto o governo se esconde da realidade atrás do falso discurso de queda, continuamos assistindo inertes ao incêndio de quase duas boates Kiss a cada 90 dias. Se seguirmos nesse ritmo, até o final do ano a violência terá “incendiado” sete boates e matado 1.728 pessoas. As vítimas, em sua maioria – assim como na Kiss – serão jovens. 



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