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Reunião discutirá empreendimentos
na área marítima de Barra do Riacho
Flavia Bernardes
Surfistas, ONGs, ambientalistas e representante do poder público foram convocados para discutir, no próximo sábado (20), os impactos dos projetos previstos para ocupar áreas marítimas no norte do Estado. Entre eles, estão um porto da Nutripetro, previsto para a região de Comboios, em Linhares, principal área do projeto Tamar no Estado e área dedicada ao surfe e ao turismo.
Também serão discutidos projetos polêmicos como o terminal de granéis líquidos da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), previsto para Barra do Riacho, onde já existe o Portocel, da Fibria, que gera inúmeros impactos ambientais e sociais na região, e o estaleiro da empresa Jurong, cujo licenciamento foi estruturado em meio a denúncias de ilegalidades e sérios prejuízos ambientais.
O movimento que organiza a reunião é chamado de ‘Movimento Engajamento Barra do Riacho’, e é uma iniciativa das empresas da região, que pela primeira vez acenam para um debate democrático sobre os impactos gerados na região há décadas pelos grandes empreendimentos. Mas, na região, a iniciativa não inspira confiança.
A justificativa de que as empresas querem conhecer melhor as necessidades e aspirações da comunidade também é alvo de suspeita nas comunidades.
Segundo Jean Carlo Pedrini, membro da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), ex-presidente e diretor da Associação de Moradores da Barra do Sahy por 11 anos, micro-empresário da região e membro diretor da Associação das Empresas de Turismo de Aracruz (Aeta), há décadas as comunidades, através de suas lideranças comunitárias e de movimentos sociais, levantam debates e denunciam os problemas constituídos pelas mesmas empresas na região, sem sucesso.
“Foram procuradas as câmaras de vereadores, meios de comunicação, gerentes de relacionamentos, prefeituras, direitos humanos, e somente agora os senhores e suas empresas se aperceberam dos problemas, sendo os senhores os grandes responsáveis, juntamente com os poderes públicos, pela total degradação destas comunidades da orla”, questionou ele sobre o evento.
Segundo Pedrini, desde a implantação da primeira planta industrial da Aracruz Celulose (Fibria) as comunidades da orla são usadas como depósito de “colaboradores” (trabalhadores vindos das mais remotas regiões do País, sem haver estrutura no município ou da empresa para recebê-los), gerando bolsões de miséria e problemas nunca existentes na região, como a prostituição e o tráfico de drogas.
Entre os pescadores a indignação não é menor. Segundo eles, a busca por um debate neste momento visa apenas à construção de novos empreendimentos na região, em detrimento da situação ambiental e econômica atual. Além de sofrerem com a falta de estrutura educacional, na saúde e setor econômico, os pescadores alegam que os impactos ambientais mudaram a rotina das comunidades e geraram feridas que jamais buscaram ser curadas pelas mesmas empresas que agora pretendem o diálogo com a comunidade.
Boa ação
Nas comunidades de Barra do Riacho, em Aracruz, e em Comboios, em Linhares, o clima é de desconfiança. Além de ser inédito o feito de convidar a comunidade para ser ouvida sobre os problemas, por trás do diálogo, eles ressaltam que há três grandes projetos poluidores buscando se instalar na região.
São eles os dois portos, um da Codesa, em Barra do Riacho; o da Nutripetro em Comboios, Linhares e a Jurong, já licenciada e que deverá contar inclusive com a presença da presidente Dilma Rousseff, para o lançamento da pedra fundamental da empresa.
Para efetivar tais projetos, além de dar satisfação à opinião pública, conforme ressalta Jean Pedrini, as empresas têm a obrigação de buscar a imagem sustentável – ambiental e social – para serem aceitas internacionalmente, ou seja, precisam convencer seus consumidores de que não impactam a região.
“Depois de se instalarem na região, tudo volta ao normal, ou seja, ao caos. E mesmo vendo isto de perto há anos, sou um apaixonado pela orla e torço para estar errado”, desabafou o ambientalista após ver inúmeros debates promovidos por grandes empreendimentos na região sendo arquivados e esquecidos após a consolidação dos projetos.
Sobre o porto da Nutripetro, por exemplo, desde o início foram iniciados os estudos na região. Entretanto, nenhuma reunião com a comunidade foi realizada até esta quarta-feira (17). A informação é que o poder público está conivente com a situação, já que foram protocolados documentos tanto na prefeitura de Aracruz quanto no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), questionando a situação.
Surfistas da região estão se mobilizando para participar do debate, que, segundo eles, trará destruição para a região e impactos para a prática de surfe. Segundo a instituição Dbarrels Surf, a Nutripetro está atualmente elaborando estudos na praia da Curva, em Barra do Riacho, área que deverá abranger seu porto, e onde há também a única faixa de praia e de mangue preservada para o lazer da comunidade.
Se construído na área pretendida pela Nutripetro, segundo Dbarrels Surf, o porto atingirá o manguezal, que serve de berço para a vida marinha e consequentemente o sustento das famílias de pescadores artesanais da região.
É na região que funciona também o projeto da escola de surfe da instituição Dbarrels Surf, que tira da zona de risco as crianças que sofrem com a falta de espaço específico para o lazer e a prática de esportes.
A reunião para discutir os empreendimentos na região será realizada no próximo sábado (20) na rua patriarca Albino Azeredo, 60.
Ratificação, este evento não será promovido pelo grupo "Movimento Engajamento de Barra do Riacho e sim por Surfistas, Ongs, Movimentos Sociais, Entidades Civis Organizadas e Ambientalistas.
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