O buraco fundo da Educação
Devidamente
distorcida, a teoria de John Dewey serviu ao projeto de alienação
Renata
Oliveira
11/08/2012
No início
da semana, o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) publicou um artigo no site Folha
Vitória em que falava de um elefante colocado na sala: a educação. O
ex-governador citou duas informações para basear seu artigo: o alarmante índice
de analfabetos funcionais existentes no País e a discussão sobre a
disponibilização da educação on-line.
Pois bem.
Para início de conversa, devemos lembrar que a bandeira do ex-governador em sua
campanha à reeleição para o governo do Estado foi a educação. No segundo
mandato, além de reformar algumas escolas, o governo com pompa e circunstância
anunciou a distribuição de quadros digitais, que hoje estão subutilizados,
quando não, acumulando poeira nos depósitos por falta de capacitação dos
professores em usar a ferramenta.
Diante da
exposição do ex-governador, a coluna convida para o aprofundamento da questão,
bem mais complexa do que a inclusão digital de jovens que muitas vezes não têm
sequer carteira para acompanhar as aulas. O problema da educação brasileira tem
512 anos, mas se agravou na elaboração da lei que a organiza no Brasil.
Quando o
ex-governador, em seu artigo, fala dos “problemas herdados e oportunidades que
surgem, somando-se num cenário em que temos muito de tempo perdido a recuperar
e, de igual forma, inéditas chances a aproveitar, para não dizer exigências
contemporâneas a cumprir”, vem a questão: quais exigências?
A de um
mundo em que o conhecimento é vasto, mas falta capacidade cognitiva para
entender, questionar e criticar ou simplesmente a capacidade de ingressar no
mercado de trabalho, produzir, consumir e aceitar a realidade como algo
imutável e do qual a participação popular é vetada e inútil?
Nesse
sentido, gostaria de destacar a desastrosa contribuição do Banco Mundial
(preocupado com a falta de mão de obra qualificada para alavancar a economia e
aumentar a produção-consumo) e da política neoliberal de Fernando Henrique
Cardoso, mantida no governo Lula neste setor em relação à educação e sua erronia
e perigosa confusão com qualificação profissional.
A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) vigente hoje no País começou a tramitar na
Câmara dos Deputados em dezembro de 1988. O deputado Octávio Elísio foi quem
apresentou o primeiro projeto. Já em 1991, com o acompanhamento permanente do
Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública e a criação de uma comissão
interparlamentar da qual participaram representantes de todos os partidos, um
relatório assinado pela então deputada Angela Amin (PRP-SC), embora não
atendesse a todas necessidades da educação brasileira, tinha um viés
democrático que garantia uma educação mais próxima do ideal ou não tão próxima
de uma aberração.
O projeto
seguiu para o Senado em 1994 e com a nova legislatura, iniciada no governo FHC,
em 1995, a LDB, com uma manobra do MEC, sofre um golpe regimental. O então
senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) encaminha pela inconstitucionalidade uma série
de artigos da lei e apresenta um substitutivo, com um projeto oriundo da Câmara
e de autoria do ex-deputado Florestan Fernandes que tratava de bolsas de estudo
para pós-graduação. Darcy Ribeiro retirou seis artigos e acrescentou outros 83,
deformando o projeto original e passando por cima de seis longos anos de
discussão. A partir daí uma luta entre entidades e Congresso foi travada e a
lei que rege a educação hoje não contempla as necessidades de escola, da
família e, sobretudo, dos estudantes.
Paralelo
às movimentações no Congresso, o Banco Mundial, embora só destine 0,5% do total
de gastos com a educação, exige participação nas políticas educativas, na forma
de gestão e na destinação de recursos. Nesse sentido, fez recomendações como
exigências para o financiamento de programas, que aparecem no Planejamento
Político-Estratégico do MEC.
Embora o
ex-governador esteja preocupado com os índices de analfabetismo funcional, a
política de contenção da evasão escolar – sim, os professores tiveram por muito
tempo índice máximo de alunos que podem reprovar por cada ano do ensino regular
para manter o fluxo de entrada e saída de alunos das etapas educacionais – foi
reproduzida em seu governo.
Também
no governo Paulo Hartung a educação era vendida como a forma mais rápida de se
conseguir um lugar ao sol no mercado de trabalho, teoria, que ao que parece,
infelizmente, é encampada pelo atual secretário de Educação do Estado, o físico
Klinger Barbosa.
A
política educacional no Brasil é baseada nas teorias do filósofo e pedagogo
norte-americano John Dewey, para quem a educação deve ter uma finalidade. Para
Dewey a educação não deveria se restringir conhecimento como algo acabado, mas
a habilidade do estudante deveria ser integrada à sua vida como cidadão,
garantindo-lhe uma função social.
Devidamente
distorcida, a teoria de Dewey serviu à educação brasileira que a usa como
justificativa para a adoção de um caminho para a qualificação, apenas. Os
cursos profissionalizantes se espalham e se misturam ao ensino básico. Cada vez
menos se preocupa com a formação humanística. Tornar o
jovem
apto para as demandas do mercado de trabalho virou uma meta a ser
cumprida.
Mas esse
assunto não acaba por aqui.
Dê a sua
opinião para crescimento democrático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário